Campeonato Mineiro 2025 é o primeiro torneio do Brasil a ter mais SAFs que associações na história
Sete das 12 equipes do torneio são Sociedades Anônimas do Futebol e uma é clube-empresa. Associações que restaram na elite têm projetos para implementar alteração
Pedro Lourenço compra SAF de Ronaldo e é novo dono do futebol do Cruzeiro
O processo de transformação de associações em Sociedades Anônimas do Futebol é um caminho que muitos clubes têm tomado no Brasil nos últimos anos. A preferência pela adesão do modelo tem ganhado cada vez mais força e fará do Campeonato Mineiro 2025 uma edição histórica. O torneio será a primeira competição no Brasil a ter mais SAFs do que associações
Sete dos 12 times que disputam o Mineiro são Sociedades Anônimas do Futebol. Além de Atlético-MG, Cruzeiro e América-MG, outros quatro times da elite — Athletic, Betim, Itabirito e Pouso Alegre — são SAFs.
Como o Tombense é um clube-empresa, uma espécie de modelo híbrido, restaram apenas quatro associações “puras” na elite atualmente. Mesmo assim, todas elas — Aymorés, Democrata GV, Uberlândia e Villa Nova-MG — estão com processos de transformação em andamento ou tem uma “embrião” para aderirem ao modelo.
PIONEIRISMO MINEIRO
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O fato do Campeonato Mineiro ter pela primeira vez a maioria de SAFs na disputa não é coincidência e sim uma consequência do quanto o futebol em Minas Gerais viu a transformação como algo viável e fundamental, desde que a mudança se tornou possível.
Quem deu início ao novo modelo no Brasil foi o Cruzeiro. Comprado por Ronaldo Nazário em dezembro de 2021, o time celeste se tornou a primeira Sociedade Anônima do Futebol no país.
Dois anos e cinco meses depois, o Cruzeiro também se tornou a primeira SAF a ser revendida no Brasil. Em 29 de abril de 2024, Ronaldo fez um acordo e vendeu as ações que detinha para o empresário Pedro Lourenço, que se tornou o novo dono. A Raposa voltou à Série A do Brasileiro com o acesso em 2022 e foi vice-campeão da Copa Sul-Americana em 2024.
A segunda Sociedade Anônima do Brasil também é mineira e vem do interior do estado. O Athletic Club, de São João del Rei, que retornou ao futebol em 2018 e atualmente está na Série B do Brasileiro, acompanhava o andamento dos assuntos relativos à autorização para a transformação em SAF e anunciou a mudança de clube para empresa no dia 21 de dezembro de 2021, três dias depois do Cruzeiro.
Apesar da ascensão meteórica no futebol nacional e de fazer barulho na mídia com contratações de impacto, como Loco Abreu, Ricardo Oliveira e Sassá, a SAF alvinegra acendeu um sinal de alerta. Na última semana, o Athletic sofreu com um Transfer Ban da Fifa e ficou impedido de inscrever atletas por conta de uma pendência financeira.
Não demorou, e o América-MG também oficializou a migração, em janeiro de 2022. Apesar de ter o modelo há três anos, a equipe ainda não tem um investidor. O clube começou a negociar com grupos, mas não chegou a um acordo.
Em maio do mesmo ano, o Itabirito foi criado e se tornou a primeira SAF originária do Brasil, ou seja, o primeiro projeto esportivo a nascer como Sociedade Anônima do Futebol. A equipe conseguiu acessos nas divisões inferiores e chegou à elite do Mineiro. O atacante Jô, que atuou por Atlético-MG, Corinthians, Manchester City e outros clubes, é o principal nome para a estreia do Gato do Mato no Módulo 1.
O Atlético-MG fez a migração para SAF em 2023. O Alvinegro foi comprado pela Galo Holding, liderada pelos empresários Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Salvador e Ricardo Guimarães. O primeiro e único título da SAF até o momento foi o pentacampeonato do Mineiro, conquistado diante do Cruzeiro em 2024.
No ano passado, mais dois times da elite do Mineiro se tornaram Sociedades Anônimas do Futebol. Em agosto, os conselheiros do Betim aprovaram a mudança. Em outubro, foi a vez do Pouso Alegre tomar a mesma decisão após votação em assembleia extraordinária.
CLUBE-EMPRESA: TOMBENSE TEM MODELO HÍBRIDO
A capacidade de investimento, a oferta de jogadores e os benefício de se manter como uma associação fazem com que o Tombense tenha um modelo muito próprio de negócio, que tenta juntar “o útil ao agradável”.
O Alvirrubro, que tem 110 anos de história, fez um acordo com a empresa de Brazil Soccer em 1998. Desta forma, o presidente do clube, Lane Gaviolle, e o dono da empresa, Eduardo Uram, têm uma parceria. A Brazil Soccer, que gerencia a carreira de jogadores, é responsável pela montagem do elenco profissional do time mineiro.
No entanto, esta parceria é apenas no futebol. Assim, o Tombense se mantém como associação, com estatuto, diretoria e conselho deliberativo definidos por processo eleitoral. Desta forma, o Alvirrubro mantém os benefícios tributários de seguir na estrutura associativa.
O ge apurou que já ocorreram conversas sobre a avaliação para que o Gavião Carcará eventualmente se torne uma SAF. No entanto, o modelo atual, que tem 27 anos, é considerado um sucesso em Tombos.
O Carcará é campeão da Série D do Brasileiro (2014), vice-campeão do Mineiro (2020), conquistou quatro títulos do Mineiro do Interior (2013, 2020, 2021 e 2024), ganhou duas vezes a Recopa Mineira (2021 e 2022) e uma vez o Troféu Inconfidência (2023). Atualmente, o time disputa Mineiro, Copa do Brasil e Série C do Brasileiro.
ASSOCIAÇÕES RESISTEM, MAS SE ARTICULAM POR TRANSFORMAÇÃO
Atualmente apenas quatro dos 12 times da elite do Campeonato Mineiro se mantém como associações. No entanto, Aymorés, Democrata GV, Uberlândia e Villa Nova-MG se articulam para eventualmente vivarem SAFs.
Dois destes clubes têm processos em andamento para a migração. Em outubro de 2024, tanto Villa Nova-MG, quanto Uberlândia assinaram acordos com empresas para verificarem o valor da marca dos clubes, desenvolverem o projeto e agilizarem as tratativas necessárias para a mudança.
No UEC, este estudo foi concluído. Os ativos relacionados ao futebol do Verdão foram avaliados entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões. O Uberlândia Esporte aguarda a chegada de propostas oficiais e, paralelamente, trabalha para dar sequência ao processo de aprovação da SAF juntos aos departamentos do clube.
O Democrata GV ainda não iniciou o processo para se tornar SAF. Há conversas em andamento para entender a viabilidade e a necessidade da migração.
Apesar de ainda não ter se movimentado para virar Sociedade Anônima do Futebol, o Aymorés, novato na elite do Mineiro em 2025, tem na estrutura do futebol um “embrião” daquilo que pode ser a SAF do Azulão.
Desde outubro de 2022, o Aymorés criou uma gestão compartilhada no futebol. Com isso, além do presidente da associação, Antônio Queiroz Júnior, três ex-jogadores gerenciam o futebol do Azulão. O ex-lateral e meia Mancini e os ex-zagueiros Wellington Paulo e Dênis também comandam o departamento no time de Ubá. A transformação do modelo de gestão do futebol de clubes em Sociedades Anônimas do Futebol está revolucionando o cenário esportivo brasileiro e promovendo mudanças significativas nos torneios nacionais e internacionais. A adesão a esse novo modelo de gestão tem se mostrado cada vez mais atraente e estratégica para garantir a sustentabilidade financeira e o crescimento dos clubes no competitivo mercado do futebol. Com o Campeonato Mineiro 2025 sendo o pioneiro nesse aspecto, a tendência é que mais competições e clubes adotem as Sociedades Anônimas do Futebol como parte essencial de sua estrutura organizacional.