Deputada Índia Armelau é Acusada por Rachadinha e Trabalho Forçado na Alerj – Investigação em Curso

Deputada Índia Armelau é acusada de ter funcionários fantasmas na Alerj e de forçar assessores a trabalhar na campanha do marido. Investigada por rachadinha.

Deputada Índia Armelau é acusada por ex-chefe de gabinete de ter funcionários
fantasmas na Alerj

Segundo Leandro Araújo, ex-chefe de gabinete da parlamentar do PL, Armelau pedia
que ele assinasse listas de presença, com pessoas que ele não conhecia, mas que
estavam nomeadas no gabinete. A deputada também é investigada por suspeita de
rachadinha.

Deputada Índia Armelau é acusada de forçar funcionários do seu gabinete para
trabalhar na campanha do marido à vereador
[https://s02.video.glbimg.com/x240/13250289.jpg]

O ex-chefe de gabinete da deputada Índia Armelau (PL) acusou a parlamentar de
ter funcionários fantasmas em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro [https://DE.globo.com/rj/rio-de-janeiro/cidade/rio-de-janeiro/] (Alerj
[https://DE.globo.com/tudo-sobre/alerj/]).

Segundo Leandro Araújo, a deputada pedia que ele assinasse listas de presença de
pessoas que ele não conhecia, mas que estavam nomeadas no gabinete. Araújo disse
que esse foi um dos motivos para deixar o cargo.

“Já teve nomes que ela queria que eu assinasse da lista de presença. Pessoas que
eu nunca vi na minha vida. (…) que estavam nomeadas no gabinete, que eu não
conhecia, não sabia nem qual era a função”, contou Leandro.

“Ela queria que eu assinasse. E isso também foi um dos motivos que eu bati de
frente com ela”, completou o ex-chefe de gabinete.

TRABALHO FORÇADO

A deputada estadual Índia Armelau (PL), que está sendo investigada por comandar
um esquema de rachadinha
[https://DE.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/01/09/deputada-india-armelau-e-investigada-por-suspeita-de-rachadinha-video-mostra-funcionario-entregando-dinheiro.ghtml]
em seu gabinete na Alerj, também foi acusada de forçar seus funcionários no
parlamento estadual a trabalhar para seu marido, durante a campanha dele à
vereador do Rio.

Fernando Paes Armelau (PL), marido de Índia, disputou a eleição de 2024 e foi
eleito, com mais de 14 mil votos, para uma das cadeiras da Câmara do Rio.

Dias antes de tomar posse como vereador, Fernando começou a ser investigado pelo
Ministério Público Eleitoral. Os procuradores também querem saber se ele
utilizou recursos do gabinete da esposa em proveito próprio.

Segundo Leandro Araújo, ex-chefe de gabinete de Índia na Alerj, Fernando
“praticamente mandava” nos servidores da Alerj nomeados pela esposa. Ele afirmou
que quem não aceitasse seria exonerado.

“O marido dela na realidade praticamente mandava no gabinete, porque sempre
estava lá ou pedindo whatsapp para algumas pessoas”, revelou Leandro.

“Antes da campanha dele, teve uma reunião que ela juntou todos do gabinete e deu
uma declaração assim: ‘Vocês trabalham para mim e trabalham para o Fernando. E
vocês vão trabalhar assim para mim e para ele. Quem não tiver satisfeito pode
pedir exoneração'”, completou o ex-chefe de gabinete.

ORDENS POR MENSAGENS

Em franca campanha, Fernando Armelau fazia pedidos para os funcionários da
esposa por um aplicativo de troca de mensagens. O RJ2 obteve as conversas do
grupo que ele estava com os trabalhadores.

“Rapaziada, boa tarde. Estive no parque olímpico e queria saber quais foram as
estruturas que foram desmontadas, qual a destinação e quanto custou. Se tiver
como acessar isso, eu vou tentar gravar lá entendeu”, escreveu o então candidato.

Poucos dias depois, Fernando gravou de fato um vídeo no Parque Olímpico.

O ex-chefe de gabinete contou que colegas foram obrigados a fazer campanha e a
declarar doações para Fernando Armelau na Justiça Eleitoral.

As doações não eram de dinheiro, mas de horas de trabalho, que também são
computadas como doação de campanha.

“Ela pegou e disse que cada um ia ter que fazer uma doação, mas na realidade
não foi uma coisa de espontânea. Foi imposta para todo mundo. Inclusive, teve
que assinar um termo de fazer a doação e trabalhar na campanha dele ou era
exonerado”, acusou Leandro.

Ao todo, 30 pessoas declararam à Justiça Eleitoral ter doado seu tempo para
trabalhar na campanha de Fernando Armelau. O RJ2 descobriu que 27 dessas pessoas
eram nomeadas na Alerj, sendo 21 no gabinete de Índia Armelau.

O suposto uso de funcionários da deputada para a campanha do marido chegou ao
Ministério Público no fim do ano passado e um inquérito da promotoria eleitoral
apura as possíveis ilegalidades.

Após a reportagem do RJ2 da última quinta-feira (9), que mostrou os relatos de
rachadinha no gabinete de Índia Armelau, o Ministério Público abriu um outro
procedimento para investigar o uso indevido de servidores da Alerj.

SUSPEITA DE RACHADINHA

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), através da Promotoria Eleitoral,
está investigando a deputada Índia Armelau (PL) por suspeita de praticar o crime
conhecido como rachadinha, em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro (Alerj).

A rachadinha é quando um servidor público se apropria de parte dos pagamentos
mensais de seus subordinados, nesse caso os assessores da parlamentar.

Segundo funcionários do gabinete de Índia Armelau, todos os assessores eram
obrigados a entregar parte dos vencimentos, entre R$ 1.470 e R$ 2.940, todos os
meses. O dinheiro repassado para a parlamentar era o auxílio alimentação pago
para os funcionários da Alerj.

Ainda de acordo com as denúncias, o dinheiro era repassado em espécie, muitas
vezes em uma sala no gabinete da parlamentar, para um assessor de confiança da
deputada. Contudo, em algumas oportunidades, a entrega de parte dos salários dos
servidores era feita na academia de Armelau ou na casa dela.

Leandro Araújo, ex-chefe de gabinete da deputada estadual, contou ao RJ2 como
ficou sabendo que Índia Armelau praticava a rachadinha no gabinete.

“Depois dos primeiros meses eu comecei ver o movimento das pessoas que entravam
e iam para a sala do lado para entregar para esse rapaz um pacote. (…) Teve
dias que eu entrei para entregar e eu vi um dinheiro”.

“Entreguei na mão dela e ela vira na minha cara, fica toda sem graça, e fala:
‘Isso aqui é para pagar as contas’. Só que era muito dinheiro, era muito
dinheiro”, denunciou Araújo.

O ex-chefe de gabinete acusa Índia Armelau de chefiar um esquema de desvio de
dinheiro público, a rachadinha.

A exoneração de Leandro foi publicada em Diário Oficial do Poder Legislativo em
janeiro de 2025, um mês depois da entrevista ao RJ2.

Leandro explicou que o dinheiro desviado era o auxílio alimentação que cada um
tinha direito a receber como benefício do emprego.

“O pessoal tinha que sacar o dinheiro. Quem tinha uma alimentação era R$ 1.470,
que é o valor do (auxílio) alimentação. Quem tem duas alimentações é R$ 2.940”,
contou.

“(A entrega) era dentro do gabinete, com uma pessoa específica. Tinha que dar
o dinheiro para essa pessoa. Ou dentro da academia dela e até dentro da casa
dela”, completou Leandro.

REPASSE NA CASA DA DEPUTADA

Um outro homem que não quis se identificar também trabalhou no gabinete de Índia
Armelau.

Em um vídeo, ele aparece contando os R$ 1.470 da cota de alimentação do seu
salário. Ele deixa o dinheiro em cima de uma bancada. O ex-funcionário afirma
que a casa é de Índia Armelau.

Em uma imagem publicada pela deputada nas redes sociais, é possível ver o cômodo
e as prateleiras com troféus que também aparecem no vídeo da entrega do
dinheiro.

Uma foto de anúncio em um site de venda de imóveis, também dá pra ver a mureta e
as cadeiras que aparecem no fundo do vídeo do ex-funcionário.

PISCINEIRO PAGO COM DINHEIRO PÚBLICO

Um dos funcionários que dizem participar do esquema de rachadinha no gabinete da
parlamentar contou que foi contratado como assessor parlamentar, mas que
inicialmente trabalhava como motoboy.

Contudo, em pouco tempo, ele passou a ter praticamente uma única função:
piscineiro da casa da deputada.

“Documento mesmo da Alerj eu acho que só levei duas vezes durante um ano”,
contou.

“Quando ela me contratou, ela falou pra mim: “você vai trabalhar na Alerj, mas
você pode ficar nas suas piscinas que você tem, para você não perder, inclusive
você vai até continuar limpando a minha”. Só que ela falou que a dela ela não ia
pagar porque já estava incluso no salário da Alerj”.

“Aí eu falei: “poxa, então faz o seguinte, Amanda, já que você não quer me
pagar, você compra o material, que a mão de obra eu faço, não custa nada, eu
faço”. E assim a gente foi fazendo”, explicou.

Durante os outros dias da semana, o funcionário contou que praticamente não
tinha nenhuma demanda relacionada ao mandato da deputada.

“Só quando eles me chamavam. O resto dos dias eu ficava em casa, aí ficava
rodando no aplicativo. Quando eles me chamavam, aí eu ia”, disse o
funcionário.

PATRIMÔNIO MULTIPLICADO POR 20

Amanda Brandão Armelau adotou o nome político Índia Armelau. Ela é deputada
estadual de primeiro mandato, eleita em 2022 com 57 mil votos, fincados na
bandeira da agenda anticorrupção

Na última eleição municipal, foi candidata a vice-prefeita do rio na chapa
encabeçada por Alexandre Ramagem, também do PL.

De uma eleição para a outra, o patrimônio declarado à Justiça Eleitoral foi
multiplicado em 20 vezes, em apenas dois anos.

Em 2022, ela tinha declarado R$ 37,5 mil, o equivalente a metade das cotas da
academia que possui no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste. Na eleição
seguinte, o total em bens saltou para mais de R$ 700 mil.

Além da academia, Índia declarou possuir metade de uma casa, metade de um
apartamento e R$ 52 mil em espécie – ou seja, dinheiro vivo.

Recentemente, Índia Armelau se mudou para essa casa comprada por R$ 1,6 milhão.

FIM DO SONHO DA CASA PRÓPRIA

O ex-funcionário da deputada contou ao RJ2 que também sonhava com a casa
própria. Ele relata ter sido contratado com um salário de R$ 3,5 mil, mas logo
no início do novo emprego recebeu mais do que imaginava.

Ele ficou eufórico. O valor extra era o auxílio alimentação. O que o trabalhador
não sabia é que, segundo ele, aquele valor teria que ser entregue para a chefe.

“Eu tinha falado com a minha esposa que a gente ia comprar nossa casa. Que eu ia
ganhar bem. (…) Aí, ela foi e me ligou. Ela falou assim: ‘passa lá em casa e
deixa um documento’. Aí, eu falei: ‘poxa, mas que documento, você não me deu o
documento nenhum'”.

“Aí eu fiquei preocupado. Ela foi e me explicou: ‘não, então lembra que eu
falei para tu que tu ia ganhar R$ 3,5 mil?’. ‘Lembro’. ‘Então, o teu salário é
esse. O que vai entrar a mais, aí você vai ter que me devolver'”, contou.

CÓDIGO PARA RACHADINHA

Os funcionários contaram ao RJ2 que a cobrança para o pagamento da rachadinha
era feita por um aplicativo de troca de mensagens e com um código para disfarçar
o pedido pelo dinheiro.

“Tinha uma pessoa que falava e eles denominavam como documento. Eles colocavam
até um apelido nisso colocavam como documento: ‘documento amanhã’ ‘documento
hoje’, ‘documento tal dia’, revelou.

O pagamento do auxílio alimentação para os funcionários da Alerj é feito todo
dia 20 de cada mês. Segundo as denúncias, no dia 19 de maio de 2024, na véspera
do pagamento, um funcionário mandou uma mensagem para Leandro Araújo, o ex-chefe
de gabinete da deputada.

“Léo, boa noite. Documento quarta”.

Segundo ele, os extratos comprovam que o valor foi sacado no dia combinado.

“Leandro Araújo contou ainda que o dinheiro da rachadinha era entregue ao colega
de gabinete que enviava as mensagens, João Lemgruber. A troca de mensagens se
repetiu outras vezes, com poucas variações, sempre perto do dia 20, segundo as
denúncias

Em contato com a reportagem, um assessor da deputada negou que Índia praticasse
rachadinha no gabinete. Por telefone, ele afirmou que os pedidos por ‘documento’
eram para a confecção de crachás de identificação.

“Não, tem nada disso não. Era documento de foto, normal. (…) Não existe, não
existe nenhum tipo de movimentação não”, contou.

O QUE DIZEM OS ENVOLVIDOS

Em nota, a deputada Índia Armelau negou as acusações de rachadinha. Ela disse
ainda que pessoas de confiança dela participaram da campanha do marido de forma
legal, após serem exoneradas ou atuando voluntariamente fora do expediente.

“Sobre a matéria de ontem, o assessor que gravou o vídeo com dinheiro foi
ameaçado e registrou ocorrência contra meu ex-chefe de gabinete, Leandro Araújo,
por oferecer dinheiro para prejudicar minha carreira política.

Esclareço que esse ex-assessor, que fora coagido, já prestava serviços à minha
família há cerca de 15 anos, e os registros apresentados na reportagem estão
descontextualizados.

Repito novamente que eu não pratico ilegalidades, não cederei a chantagens, e
todas as medidas legais cabíveis serão tomadas contra aqueles que mentem,
caluniam e tentam denegrir a minha imagem”.

Fernando Armelau afirmou que a denúncia contra ele é “completamente mentirosa,
canalha e maldosa”. Segundo ele, os autores responderão à Justiça.

“Todos os recursos utilizados na campanha foram diretos do fundo eleitoral, são
transparentes, foram auditados e aprovados pelo TRE”.

Na última quinta, a deputada Índia Armelau também disse que vai tomar as
“medidas legais cabíveis”.

“Nesses tempos em que são recorrentes os casos de manipulação de áudios e
vídeos, até por inteligência artificial, assusta a que ponto chega a maldade
humana. Eu vou tomar as medidas legais cabíveis sobre essas mentiras. O mandato
é íntegro, não será manch